Foi uma ocasião para o Santo Padre dirigir-se a todos que servem na Curia. Uma ocasião para cumprimentos e também conselhos.
As palavras do Pontífice proferidas na ocasião foram as seguintes:
"Senhores Cardeais,
Amados irmãos no episcopado e no sacerdócio,
Amados irmãos e irmãs!
Amados irmãos e irmãs!
O Senhor concedeu-nos a graça de
fazermos uma vez mais o caminho do Advento, tendo rapidamente chegado
aos últimos dias que precedem o Natal, dias permeados dum clima
espiritual único, feito de sentimentos, recordações, sinais litúrgicos e
não litúrgicos, como o presépio. Neste clima, situa-se também o
tradicional encontro convosco, Superiores e Oficiais da Cúria Romana que
prestais diariamente a vossa colaboração para o serviço da Igreja. A
todos vos saúdo cordialmente; seja-me permitido que saúde de modo
particular o Arcebispo Pietro Parolin, que há pouco começou o seu
serviço como Secretário de Estado e precisa das nossas orações!
Comunidade de trabalho e gratidão
Ao mesmo tempo que temos os nossos
corações repletos de gratidão a Deus, que nos amou até ao ponto de
entregar o Filho Unigénito por nós, é bom dar espaço à gratidão também
entre nós. E, neste meu primeiro Natal como Bispo de Roma, sinto
necessidade de vos dizer um grande «obrigado» a todos, como comunidade
de trabalho, e a cada um pessoalmente. Agradeço-vos pelo vosso serviço
de cada dia: pelo cuidado, a diligência, a criatividade; pelo empenho,
nem sempre fácil, em colaborardes no departamento ouvindo-vos,
confrontando-vos, valorizando as diferentes personalidades e qualidades
no respeito recíproco.
De forma particular, desejo exprimir a
minha gratidão àqueles que, neste período, terminam o seu serviço e
passam à reforma. Bem sabemos que, como presbíteros e bispos, nunca se
vai para a reforma; mas do serviço, sim. E é justo; até para se dedicar
mais à oração e ao cuidado das almas, a começar pela própria! Assim, um
«obrigado» especial, que me vem do coração, para vós, amados irmãos que
deixais a Cúria, sobretudo para vós que aqui trabalhastes durante tantos
anos e com grande dedicação, sem dar nas vistas. Isto é verdadeiramente
digno de admiração. Muito admiro estes Monsenhores que seguem o modelo
dos antigos curiais, pessoas exemplares... Mas hoje também os temos!
Pessoas que trabalham com competência, precisão, abnegação, realizando
cuidadosamente o seu dever quotidiano. A minha vontade era nomear aqui
algum destes nossos irmãos para lhes exprimir a minha admiração e
gratidão, mas sabemos que, numa lista, os primeiros que se notam são
aqueles que faltam e, ao fazê-lo, corro o risco de esquecer alguém e
cometer assim uma injustiça e uma falta de caridade. Contudo quero dizer
a estes irmãos que constituem um testemunho muito importante no caminho
da Igreja.
Profissionalismo e Serviço
A partir deste modelo e deste testemunho
deduzo as características do Oficial de Cúria, e mais ainda do
Superior, que gostaria de sublinhar: o profissionalismo e o serviço.
O profissionalismo, que significa
competência, estudo, actualização... Isto é um requisito fundamental
para trabalhar na Cúria. Naturalmente, o profissionalismo vai-se
formando e, pelo menos em parte, adquire-se; mas, precisamente para que
se forme e seja adquirido, penso que é preciso haver, desde o início,
uma boa base.
E a segunda característica é o serviço,
serviço ao Papa e aos bispos, à Igreja universal e às Igrejas
particulares. Na Cúria Romana, de um modo especial aprende-se,
«respira-se» precisamente esta dupla dimensão da Igreja, esta
interpenetração entre universal e particular; e penso que esta seja uma
das mais belas experiências de quem vive e trabalha em Roma: «sentir»
assim a Igreja. Quando não há profissionalismo, lentamente vai-se
escorregando para o nível da mediocridade. A resolução dos casos
reduz-se a informações estereotipadas e comunicações sem fermento de
vida, incapazes de gerar horizontes grandes. Por outro lado, quando o
procedimento não é de serviço às Igrejas particulares e seus bispos,
então cresce a estrutura da Cúria como uma alfândega pesadamente
burocrática, inspetora e inquisidora, que não permite a ação do Espírito
Santo e o crescimento do povo de Deus.
Santidade de Vida
A estas duas qualidades,
profissionalismo e serviço, gostaria de acrescentar uma terceira, que é a
santidade de vida. Bem sabemos que esta é a mais importante na
hierarquia dos valores. Efetivamente, está na base também da qualidade
do trabalho, do serviço. Santidade significa vida imersa no Espírito,
abertura do coração a Deus, oração constante, humildade profunda, amor
fraterno nas relações com os colegas. Significa também apostolado,
serviço pastoral discreto, fiel, realizado com zelo no contacto directo
com o povo de Deus. Isto é indispensável para um sacerdote.
Santidade, na Cúria, significa também
objecção de consciência às murmurações! Nós, justamente, insistimos
muito sobre o valor da objecção de consciência, mas talvez devamos
exercitá-la também para nos defendermos de uma lei não escrita que,
infelizmente, existe nos nossos ambientes: a das murmurações. Então,
façamos todos objecção de consciência! E olhai que não pretendo, com
isto, fazer apenas um discurso moral; as murmurações lesam a qualidade
das pessoas, do trabalho e do ambiente.
Queridos irmãos, sintamo-nos todos
unidos neste último pedaço de estrada para Belém. Nisto pode fazer-nos
bem meditar sobre o papel de São José, tão silencioso e tão necessário
junto de Nossa Senhora. Pensemos n'Ele, na sua solicitude pela Esposa e o
Menino. Isto é de grande inspiração para o nosso serviço à Igreja! Por
isso, vivamos este Natal espiritualmente unidos a São José.
Muito obrigado pelo vosso trabalho e,
sobretudo, pelas vossas orações. Sinto-me deveras «levado» pelas
orações, e peço-vos que continueis a sustentar-me desse modo. Também eu
vos recordo ao Senhor e abençoo, desejando um Natal de luz e de paz para
cada um de vós e vossos entes queridos.
Feliz Natal!" (JSG)
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