março 18, 2014 em Espiritualidade por Alberto Dias
São José, esposo de Maria e pai legal
do Filho de Deus, é certamente um dos santos mais venerados pela piedade
popular. No entanto, quase só ouvimos falar dele como “o carpinteiro de
Nazaré” ou “o padroeiro dos operários”. Esses títulos são muito
legítimos, mas estão longe de nos dar ideia do píncaro de santidade ao
qual Deus houve por bem elevá-lo.
Ele nunca será devidamente conhecido e
venerado por nós se repetirmos a triste cegueira dos habitantes de
Nazaré, considerando-o apenas como o pobre carpinteiro.
Deus em sua perfeição só escolheria
por pai legal um homem santo, à altura da santidade de Maria Virgem. Um
salmo parece já prever: “O Senhor escolheu para Si um homem segundo o seu coração” (1 Sm 13, 14).
O Evangelho louva-o numa única e breve
frase: era justo. Tal elogio, à primeira vista de um laconismo
desconcertante, nada tem de medíocre. Na linguagem bíblica, o adjetivo
“justo” designa todas as virtudes reunidas. No Antigo Testamento, justo é
aquele a quem a Igreja dá o nome de santo: justiça e santidade exprimem
a mesma realidade.
Príncipe da casa de Davi
Ao serrar a madeira, fabricar u móvel
ou um arado, José mantinha sempre seu espírito voltado para o
sobrenatural, elevando-se para o aspecto mais sublime e considerando
tudo sob o prisma de Deus. Isso contribuía para o maior primor dos
trabalhos por ele executados.
Sua humilde condição de trabalhador
manual em nada lhe diminuía a nobreza. Reunia em si, de forma admirável,
as duas classes sociais: como legítimo herdeiro do trono de Davi,
conservava em seu porte a distinção própria a um príncipe, aliando-a,
porém, a uma alegre simplicidade.
Para ele, mais importante do que a
nobreza de sangue é aquela que se alcança pelo brilho da virtude; e
esta, ele a possuía largamente.
Esponsais entre duas almas virgens
A Providência preparou-o assim para
ser o esposo da Santíssima Virgem. É conhecido o modo pelo qual foi
escolhido: dos pretendentes convocados ao Templo, apenas o seu bastão
floriu.
Maria Santíssima, porém, fizera voto
de virgindade por achar-se indigna de ser antepassada do Messias. Esse
ato de humildade valeu-lhe o milagre de ser a Mãe do Messias, Jesus, o
Filho de Deus. Apesar do seu voto, submeteu-se à ordem de contrair
matrimônio. Quem seria seu esposo? perguntava-se a si mesma.
Se conservava algum receio, deve este
ter-se dissipado quando soube que o escolhido era José, em cuja alma Ela
já vira, por seu aguçado dom de discernimento, as altíssimas virtudes.
Podemos bem imaginar que, já no
primeiro encontro, a graça tocou a José — ele também fizera voto de
virgindade —, levando-o a consagrar-se como escravo de amor Àquela que,
mais do que esposa, já considerava como sua Senhora e Rainha.
Homem a altura de ser esposo de Nossa Senhora
Para fazermos uma ideia exata da
magnitude de sua personalidade, devemos imaginá-lo como sendo uma versão
masculina de Nossa Senhora, o homem dotado de sabedoria, força e pureza
bastantes para governar as duas criaturas mais excelsas saídas das mãos
de Deus: a Humanidade santíssima de Nosso Senhor e a Rainha dos anjos e
dos homens.
O matrimônio na antiga Lei era
realizado em duas etapas: havia os esponsais, pelos quais passavam a
pertencer um ao outro, consideravam-se esposos. Contudo, as bodas e a
coabitação eram adiadas por um ano para dar tempo da esposa completar o
enxoval e ao marido preparar a casa. Maria e José cumpriram essas
formalidades.
Deus prova aqueles a que ama
Foi durante o intervalo entre os
esponsais e as bodas que o anjo aparece a Maria e dá-se a Encarnação do
Filho de Deus. Maria, sabedora de que sua prima Isabel esperava o
nascimento de João Batista, foi prestar-lhe ajuda. Três meses depois,
após o nascimento do Precursor, Maria volta a Nazaré. Depois do seu
regresso José não tardou em perceber os primeiros sinais de gravidez em
Maria, na qual ele não teve parte e Maria, por humildade não lhe revelou
que concebera o Messias por obra do Espírito Santo.
Pela Lei mosaica ele devia denunciá-la
e Ela seria morta apedrejada, ou dar-lhe o libelo de divórcio, em que o
repúdio do esposo lançaria suspeita sobre Ela. O que fazer, pois José,
apesar de desconhecer a Encarnação do Verbo, tinha absoluta certeza da
inocência e santidade de sua esposa?
A solução encontrada por José não se achava nos livros da Lei, mas em seu coração: “Resolveu deixá-La secretamente”
(Mt 1, 19). Agindo assim, salvaguardava a fama de sua esposa, pois Ela
seria vista como uma pobre jovem abandonada pela crueldade de um homem
sem palavra. A culpa recairia toda sobre ele.
Além do mais, renunciava também à sua
própria felicidade: tinha de abandonar Nossa Senhora, o maior tesouro da
terra. Sofrimento imenso, pois para ele o convívio com Maria
significava um verdadeiro Paraíso.
Via-se agora obrigado a sacrificar
aquilo que mais apreciava em sua vida! Passaria seus dias longe,
venerando um mistério que não entendera.
Durante alguns dias, José maturou sua
resolução, decidido a pô-la em prática. Numa noite preparou seus pobres
pertences e deitou-se. Tal era o seu equilíbrio de alma que dormiu a
ponto de sonhar. No sonho, o anjo aparece-lhe: “José, filho de Davi,
não temas receber Maria por esposa, pois o que n’Ela foi concebido vem
do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de
Jesus, porque Ele salvará o seu povo de seus pecados” (Mt 1, 20-21).
O prêmio: adorar Deus humanado no seio da esposa
É impossível medir o gozo de José ao
despertar do sonho. Logo ao alvorecer, correu a encontrar-se com sua
esposa. Certamente nada disse a Maria, mas seu semblante era mais
eloquente do que as palavras.
De joelhos, adorou a Deus no seio
virginal de sua Mãe. Um Deus que também era seu filho, pois o anjo
manifestou com clareza sua autoridade sobre o fruto de sua esposa: “um filho a quem porás o nome de Jesus”.
Uma criatura dando conselhos ao Criador…
Quantas vezes teve nos braços o Menino
Jesus? O dia inteiro convivendo, observando-O rezar, falar, fazer todos
os atos de sua vida comum… Nessa contemplação constante, para a qual
ele tinha uma alma maravilhosamente apta, recebia graças extraordinárias
e se deixava modelar.
Por vezes, o Menino parava diante dele
e dizia: “Peço-vos um conselho: como devo fazer tal coisa?” E São José
se comovia: quem estava lhe pedindo um conselho era o próprio Filho de
Deus!
Antes de Jesus começar sua vida
pública José entregou sua alma ao Criador. Foi-lhe outorgada a graça de
expirar entre os braços de Deus, seu Filho, e da Mãe de Deus, sua
Esposa.
De corpo e alma no céu
Sobre o prêmio eterno recebido por José, afirma S. Francisco de Sales: “Se
é verdade o que devemos acreditar, que, em virtude do Santíssimo
Sacramento que recebemos, os nossos corpos hão de ressuscitar no dia do
Juízo Final, como podemos duvidar de que Nosso Senhor tenha feito subir ao Céu, em corpo e alma, o glorioso São José, o qual teve a honra e a graça de trazê-Lo tantas vezes em seus braços benditos? Não resta dúvida, pois, de que São José está no Céu em corpo e alma”.
.
(Condensado
de “O varão a quem Deus chamou de pai”, Irmã Clara Isabel Morazzani, EP,
na revista “Arautos do Evangelho”, nº 63, março de 2007, pp.18-25)
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